A triagem do distress (afeto negativo) em pacientes com cancro é recomendado internacionalmente como uma boa prática no tratamento do cancro, já que os altos níveis de distress relacionados podem ter um impacto negativo nos resultados clínicos, como é o caso da sobrevivência e da qualidade de vida. Recomeda-se que o distress seja concebido como o 6º sinal vital e com devendo ser avaliado rotineiramente nos cuidados oncológicos. Como tem sido demonstrado em estudos realizados por um investigador da nossa equipa, Michael Antoni, o afecto negativo em pacientes com cancro de mama tem sido associado com um ritmo diurno do cortisol “plano” e uma disfunção do funcionamento do sistema imunológico, designadamente uma maior expressão do gene inflamatório dos leucócitos (IL-1, IL-6, TNF) os quais estão relacionadas com o desequilíbrio do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA) [AnLuCo06]. A desregulação do HPA é relevante em doentes com cancro uma vez que as alterações no cortisol circulante interagem com as células do sistema imunológico para regular positivamente a sinalização inflamatória, o que poderá promover a progressão da doença. O distress em pacientes com cancro também pode ser correlacionado com medidas objetivas de mudanças (aumento ou diminuição) no metabolismo da glicose cerebral, em regiões dentro do circuito límbico-cortical do cérebro.
O distress pode ser medido por meio de questionários simples, que avaliam a experiência subjetiva dos pacientes. No entanto, em muitos centros e países, isso ainda não é uma prática clínica padrão e como consequência a maior parte do sofrimento psicológico em pacientes com cancro passa despercebido pela equipa clínica e não é tratado. A identificação do distress em pacientes com cancro é um alvo importante no atendimento clínico para otimizar o bem-estar dos pacientes e seus resultados clínicos. Como tal, seria importante ter alternativas na prática clínica para o detectar e, mais importante, ter uma medida / indicador da propensão do paciente para o distress em resposta aos desafios da doença. Este estudo pode dar um contributo nesse sentido.
Estudos utilizando a tomografia por emissão de positrões (PET) em indivíduos sem cancro têm demonstrado correlações entre medidas de self-report de depressão e alterações no metabolismo da glicose cerebral regional (RCGM), bem como no fluxo de perfusão cerebral regional / sangue em algumas regiões específicas do cérebro. No entanto, não foram relatados estudos que relacionem o distress (que não envolve necessariamente depressão) com RCGM em pacientes com cancro. Apesar disso, exames de FDG-PET são utilizados na prática clínica para avaliar a progressão da doença e a resposta ao tratamento em pacientes com cancro da mama metastático (MBC). Com este projeto pretende-se, pois, colmatar esta lacuna, uma vez o nosso principal objectivo é examinar as associações entre as diferenças individuais nas medidas de self-report de depressão, ansiedade, e níveis de cortisol e medidas RCGM (FDG-PET) da atividade de base em regiões específicas dentro do circuito límbico-cortical do cérebro, como na amígdala, núcleo pulvinar, córtex pré frontal dorsolateral e córtex cingulado subgenual anterior em pacientes MBC. Esperamos verificar que os níveis mais elevados de distress estão relacionados com o aumento ou a diminuição de medidas RCGM (FDG-PET) nessas mesmas regiões específicas do cérebro. Isto pode permitir-nos identificar uma ou mais regiões dentro do circuito límbico-cortical do cérebro, que são sensíveis aos níveis de aumento do distress e às alterações do eixo HPA e, como tal, podem servir como um indicador objetivo do estilo afetivo do paciente. As diferenças individuais em alterações tônicas do nível de atividade de regiões específicas do cérebro poderia prever diferenças na propensão para o distress em resposta aos desafios da doença e, portanto, terá impacto sobre o tratamento de pacientes com cancro, facilitando um encaminhamento adequado para uma intervenção preventiva psicossocial adequada. Esta forma ‘suave’ da triagem do distress, a partir de um exame clínico de rotina, iria beneficiar os pacientes e os profissionais. O impacto positivo de ter uma tal medida é importante porque poderá permitir: (1) o rastreio precoce de pacientes com maior risco de morbilidade psicológica (2) encaminhamento precoce de ajuda psicossocial para prevenir e/ou reduzir o sofrimento e a morbilidade psicológica (3) otimizar a seleção dos pacientes para o atendimento psicossocial reduzindo os custos de saúde; (4) otimizar os resultados clínicos (reduzindo os efeitos adversos potenciais na função imune produzidos pelo distress e/ou morbilidade psicológica em pacientes com cancro); (5) abrir a porta para estudos futuros que podem examinar se as pessoas que recebem anti-depressivos ou intervenções psicoterapêuticas exibem mudanças objetivas na atividade cerebral.
Projetos financiados